domingo, 25 de outubro de 2009

Sei Lá

Os versos que compõem a simplicidade de cada momento fazem dele um nobre cantor. Dão uma nova sensação ao paladar desgastado do velho esquio, preenchem vazios imensuráveis com o gasto tocar das notas no braço do seu violão. Conheceu cada detalhe dos quatro cantos, das quatro paredes, seguiu cada um dos ventos que soprou sem rumo. Não procurou a felicidade e nunca maldisse a dor, sempre manteve por perto os sentimentos incertos.
Os dias que pulsaram nas manhãs mal dormidas, culpadas pelos goles de densos refrões da madrugada. E simplesmente tocar, nunca esperou uma moeda, soube que nenhum acorde seria perene, e nenhuma canção efêmera. O instante de paz que a vida proporcionou preferiu dividir com os egoístas que ali se sentaram para uma serenata. Tomou as chuvas que providenciaram a solidão de um eterno andarilho. E pela estrada somou passos com o sol a lhe perseguir pelo milharal.
Quis um dia transformar os rostos deste mundo, mas permaneceu fiel ao instrumento que carregara nos ombros. E não se arrependeu de errar notas desapercebidas pelo publico. Tomou um fôlego para andar mais lentamente, e deixar que lhe ultrapassem os apressados. Preferiu não mais olhar de soslaio e seguiu simplesmente, esperando o dia que andar descalço será a sua libertação. Já não tem mais a quem seguir, e deixou desfeitas as marcas de sua sola no chão.
Brindou o som que o silêncio propôs desde aquele dia que escolheu caminhar pelos compassos assimétricos. Escolheu escalas para subir os degraus impostos a tua frente. Passou pelo muro como se nada houvesse ali, ergueu seus punhos não em riste, mas em entrega. Derramou-se em uma última grande pausa, o homem simples de outrora era agora feito de música sem vitórias e sem derrotas. A pausa se prolongou concluindo a canção.

Humilhados, ofendidos e derrotados

Foi enganado pela interpretação errada das palavras naquela letra de música, achou se tratar de um grande amor, de uma grande transformação, da verdadeira essência. Encontrou força e inspiração para se levantar da cama no dia mais frio de sua existência. Mas não era nada disso, era apenas mais uma música sobre cocaína, a verdadeira paixão de muitos corações.

Enxergou nos corredores do prédio um vazio simétrico, ainda em silêncio pelo gosto horrivel matinal. Escadas disformes fazendo-o tropeçar nos próprios passos. Quis gritar, ou mesmo sussurrar, mas a dor física e emocional o impediam de pensar no que dizer. Perpetuou mais o silêncio, deu vazão ao som do vento encanado.

Aquele era o futuro, agora, acontecendo devagar, para lhe lembrar de cada dor momentânea, mas fazendo-o esquecer da diversão passada. Prazer que foi deixado dentro de uma lata, esvaziada com o passar da noite. As lembraças são vácuos no tempo, embaçadas pela falsa memória e lapsos de consciência.

Não existe orgulho dentro dos olhos de um sofredor, humilhado e ofendido pela própria sensação de desgosto. Uma madrugada tragada, fumada e cheirada, uma noite perdida. Dando voltas no mesmo caminho, dentro de um carro despedaçado, isso sim é liberdade.

Aqueles instantes vão ficar congelados dentro da minha mente, perdidos entre tantos outros. Último lance de escadas, o suficiente para cair derrotado, se entregar ao chão e deixar que ele lhe agasalhe até o próximo amanhecer, ou até o cão lhe acordar com uma lambida de liberdade.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Amor e Asco

Estava linda aquela tarde, seu olhar direto para dentro de mim como se acertasse um alvo e seus longos cabelos pretos me provocando, chamando para um abraço. Queria saber dançar, ao menos rodopiar teu corpo para manter o sorriso dos teus lábios constante, a me hipnotizar docilmente. Não cansava de me sentir atraído pelo teu corpo, de devanear planos para nos aproximar ou de assegurar outros sonhos.
O suspiro do ônibus calou todas as minhas sensações, notei que estava debilitado, abatido por um arpão como uma baleia distraída na inconstante imponência do mar. Mas logo tive consciência de como era bom segurar as pequenas mãos enquanto ela embarcava venerada por mim, deixando seu rastro de perfume para trás. O som de suas palavras não fez sentido algum, eu estava em êxtase, delirante, e, no entanto tudo era belo e confortável.
A aceleração do ônibus nos fez tropeçar e selou nossos corpos, suas coxas duras e nuas se entrelaçaram com as minhas, sua bunda protegida pela atrevida saia se encaixou em mim e suas costas bateram contra meu peito. Ainda não decifrei o perfume que me fisgou tão irracional e tolamente. O teu corpo de 17 anos parecia carregar o verdadeiro segredo, você o mostrava e ao mesmo tempo escondia de todos.
Procurei desesperadamente o seu assento, como se a tivesse perdido por um motivo banal e passasse anos a sua procura. Lá estava ela, tranqüila apoiada na janela, o fundo parecia promissor e tão logo notei o seu olhar imperioso, sentei ao seu lado com a mala sobre meu colo. Sua mão delicada firmemente procurou meu pau assim que me instalei e encontrado-o passou a massagear e manusear com destreza e fome, como se fosse perder ele para sempre.
Assim que meu pau ficou duro ela enfiou agilmente sua mão para dentro da minha calça, apoiada com a cabeça no meu ombro e com o corpo debruçado para o meu lado ela se entregou, voraz e sedenta. O suspiro que era emanado de seu ventre acelerava sua caricia, tentei ajeitar a mala sobre meu colo, mas o ônibus não estava cheio e me deu a oportunidade de relaxar e apreciar aquela pequena mão tocar no meu pau endurecido e grosso com tanta vontade. Era ela que perdia a voz agora, tentava sussurrar alguma coisa, mas sua boca se mantinha aberta sem nada proferir.
O prazer se esvaiu em asco, toda aquela lama fétida escorrendo pelo teu corpo me deixava enojado. Tudo em você me deixava enjoado, não precisava mais de ti e desci na primeira oportunidade. Estava longe, minha visão estava embaçada como se eu tivesse acordado agora, não queria notar nada ao meu redor, e muito menos falar com ninguém, você já tinha partido e nada faria por mim.